OUTUBRO, MÊS DAS MISSÕES.
(TEXTO ENVIADO PELO PADRE JOÃO RIBEIRO
– PARÓQUIA SÃO JOSÉ)
“Não se abre uma rosa apertando-se o
botão”, escreveu alguém. É um pensamento
muito próprio para uma reflexão sobre a vocação missionária do cristão para o
mês que se avizinha: o mês de outubro, dedicado às missões. Jesus disse ao
enviar os apóstolos para anunciar o ano da graça: “Eis que vos enviou como carneiros
em meio a lobos vorazes” (Cf. Mt. 10,16). E, quando, mal recebidos em uma
cidade, João e Tiago pretendiam mandar o fogo dos céus sobre aquele povo, mas
Jesus os repreendeu “Não sabeis de que espírito sois. (Cf. Lc. 9,55).
A primeira atitude do missionário deve
ser a mansidão. O anúncio da Boa Nova é um anúncio de paz. O texto do profeta
Isaias lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc. 4,16-22)) e a si próprio
aplicado, diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, eis porque me ungiu e
mandou-me evangelizar os pobres, sarar os de coração contrito, anunciar o ano
da graça”(Cf. Is. 61, 1-4)
E, logo a seguir, no Sermão da
Montanha, revirando todos os princípios e conceitos que o pecado instilara nos
corações dos homens, da sociedade e da cultura, declara bem aventurados os
mansos, os misericordiosos e os que promovem a paz(Cf. Mt. 5)
A violência e a agressividade afastam
os corações. Não é a toa que Santa Terezinha foi declarada padroeira das
missões, ela que jamais transpôs as grades de seu convento e, partindo deste
mundo aos vinte quatro anos, podia prometer que dos céus enviaria uma chuva de
rosas sobre a terra. São Francisco de Sales, igualmente ensinava que se apanham
mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre.
Quanta paciência e compreensão
mostraram os santos missionários de todos os tempos na inculturação da fé em
corações duros e arraigados numa cultura pagã totalmente diversa dos caminhos
cristãos. Davam tempo ao tempo, como o semeador aguarda com paciência o tempo da
colheita.
Ainda no Evangelho lido na liturgia de
dias atrás, diante da crítica dos fariseus, Jesus amorosamente acolhe a
pecadora pública e lhe perdoa os pecados, e não reprime com exasperação o
pecado dos “puros de todos os tempos”, mas os leva à conversão chamando-os ao
amor.(Cf. Lc. 7, 36-50) Assim também em
outro episódio, uma ceia junto a publicanos e pecadores, o Mestre disse aos que
o criticavam: “Não são os que tem saúde
que precisam de médico, mas os doentes. Ide aprendei o que significa:
prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Cf. Mt.9, 10-14).
O plano salvífico de Deus não é
imposto. Como na criação Deus respeitou a vontade do homem que optou pelo
pecado, assim também o respeita na opção que ele faz diante da oferta da
salvação. “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”, diz Santo
Agostinho.
O cristão que tem, pelo batismo, a
vocação missionária, a missão de anunciar a Boa Nova, tem de ter, ele próprio,
um coração semelhante ao de Cristo, manso e humilde, como pedimos na
jaculatória, “fazei nosso coração semelhante ao vosso”.
Paulo VI, na Evangelii nuntiandi
exorta: “A obra da evangelização pressupõe um amor fraterno, sempre crescente,
para com aqueles a quem ele (o missionário) evangeliza.” (nº 79) e cita São
Paulo aos Tessalonicenses (2Tes. 8) como programa.
Refere-se ainda, exemplificativamente,
a outros sinais de afeição que o missionário tem de ter em relação ao
evangelizando: o respeito pela situação religiosa e espiritual das pessoas a
quem se evangeliza; a preocupação de se não ferir o outro sobretudo se ele é débil em sua fé e um esforço para
não transmitir dúvidas ou incertezas
nascidas de uma erudição não assimiladas.
O missionário, ao levar a Boa Nova a
um mundo angustiado e sem esperança ou cuja esperança se esgota com o último
suspiro, não pode se apresentar triste e descorçoado, impaciente ou ansioso,
mas deve manifestar uma vida irradiante de fervor e da alegria de Cristo.
Nesse espírito o missionário, sem
tergiversar sobre sua fé e sobre a mensagem, abra sua voz para “propor aos
homens a verdade evangélica e a salvação em Cristo, com absoluta clareza e com
todo o respeito pela opções livres que a consciência dos ouvintes fará” (E.N
80). Lembre-se “não se abre uma rosa apertando-se o botão”.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO –
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG
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